RONDÔNIA
NA LAMA
*Fátima Brito
O Brasil está atolado na lama
fedorenta da corrupção, a cada dia que passa nos dá a sensação que só existem
dois caminhos para nosso país: O Brasil acaba com a corrupção ou a corrupção
acabará com ele.
Nos quatros cantos do país, de Brasília ao
município mais humilde escondido em meio à floresta amazônica, nossos políticos
fazem a festa com o dinheiro público e já não se tem mais lugar pra guardar
tanto dinheiro. São caixas de sapatos, meias e cuecas e abertamente em
associações e fundações fantasmagóricas e fraudulentas para tirar dinheiro a
“rodo” dos cofres governamentais e aumentar a cada dia a desigualdade social.
Li em uma coluna de um
jornal eletrônico que o autor dizia ter saudades da ditadura militar, e afirmo
a este caro colega que também tenho
saudades! Bons tempos aquele, eu era feliz e não sabia!
Sinto muito pelas mães
que perderam seus filhos, sinto também pelos filhos que perderam seus pais por
uma grande luta em busca da tão sonhada liberdade e perderam suas vidas nos
porões do antigo regime, através de torturas. Pelo menos a Ditadura Militar
tinha nome, cara e cor.
Nome: Exercito
Brasileiro
Cara: Homens
uniformizados
Cor: Verde
Só que a ditadura
militar não importunava aqueles que viviam suas vidas e não se envolvidas em
política, não matava criancinhas, velhinhos e jovens. Eu mesma nunca fui
importunada pelos militares, trabalhava muito, só vivia pra meus filhos e para
melhorar nossa situação financeira quando precisava ir ou levar meus filhos ao
médico, sempre tinha atendimento nunca voltava desolada.
Isso é para refletir:
você acreditava mesmo que vivemos uma democracia¿ não! Hoje a nossa ditadura
não tem cara, nem cor e nome. Mas, ela existe! Os porões da tortura são os hospitais públicos também carinhosamente
chamados de “corredores da morte”. Seu
crime: ficar doente e não ter dinheiro para pagar hospital particular ou
não ter plano de saúde! Método de Tortura:
ser jogado no chão, não ter médico pra atender, nem ter remédios e ficar por
dias a frio nos corredores fétidos dos hospitais imundos e que não respeita
ninguém independente de cor ou idade e os soldados são funcionários, mal
remunerados, estressados, exaustos e que na hora de reivindicar os seus
direitos são espancados.
A ditadura militar acabou
só que vivemos uma ditadura sem cara, cor ou nome, mas está ai. Ela não tem
porões... Os métodos são mais sofisticados, se você denunciar qualquer
falcatrua leva um tiro na cara de um motoqueiro qualquer, a pena é de morte ou
sofre um festival de desmoralização pública, tiram todos os adjetivos de
qualquer marginal e colocam em você.
Hoje não tem ninguém
sendo espancado nos porões da ditadura “sem cara” porque não tem ninguém
denunciando, até porque se denunciar os corruptos, os ladrões saem rindo da
cara do povo. Há poucos dias vi professores sendo espancados levando tiro de
borracha, a policia espancou os mesmos com cassetetes e chutes diante de
câmeras de repórteres! Crime: está
reivindicando melhores salários e condições de trabalho, como segurança, para
não ser morto por alunos mal intencionados, isso aconteceu no Ceará, mas
acontece em qualquer lugar deste país e principalmente com a classe
trabalhadora.
Isso é ditadura! Só mudou de mãos. A ditadura militar pelo menos torturava nos
porões, nos fundos de uma casa qualquer, não faziam diante dos filhos e netos
para que não vissem e os familiares passarem o desespero de ver seus entes
queridos serem torturados.
Essa ditadura espanca
trabalhadores nas ruas e também quem fere seus interesses. Fui eleita vereadora
nesta capital (Porto Velho), e resolvi que faria um trabalho respeitando o fim
para o qual fui eleita. De inicio fui convidada a uma reunião com a direção do
Partido no qual era filiada e ouvir que teria que ler e rezar na cartilha do
então presidente do partido, ainda tinha
que votar favorável em tudo que fosse de interesse do presidente e nos
benefícios “pessoais” da prefeitura!
Fui contra, pois era
contra meus princípios. Jamais viraria um “fantoche”.
Paguei muito caro por
isso, fui pega pela ditadura sem cara, não para os porões, mas para o
xadrez de uma delegacia pois prenderam
meu marido, torturaram de todas as formas: com choques nas partes intimas,
afogamento, espancamento e asfixia mento e ainda o acusavam de receptação de
objetos roubados. Torturaram presos para acusá-lo de ser receptador, ficou
quase morto de tanta tortura que ficou um mês internado em um hospital
particular para se recuperar, depois mais três meses na penitenciaria com
bandidos de alta periculosidade.
O pior de tudo, que
ainda fizeram-no acreditar que eu havia mandado fazer tudo aquilo que ele
sofreu, para quando saísse da cadeia com muito ódio de mim, me matasse e a vaga
na câmara municipal estaria livre e seria assumida pelo suplente e este jamais
teria coragem de ir contra, pois teria o exemplo do que acontece com quem fere
os interesses.
Hoje meu ex-marido tem
ódio mortal de mim, pois acredita mesmo que fui eu que mandei torturá-lo, como
muitas pessoas que se lembram do fato também acreditam. Sai da vida pública com
fama de mulher “cruel” que manda
torturar o marido.
Isto é a
“democracia”!!!
Logo em seguida
descobrir um desvio de recursos para obras de infra-estrutura através de
convênio com o Governo Federal para 11 obras. Criei CPI e chegamos ao final
comprovando todas as irregularidades denunciadas e outras. Mais uma vez sentir
o peso dessa ditadura sem nome e sem cor.
E o que sofri de menos
foi o Prefeito dizer nos noticiários locais que eu batia na minha mãe, para
chocar as pessoas e me desmoralizar publicamente. Depois de fuçar a minha vida
e não encontrando nada quer desabonasse minha conduta como parlamentar a
bendita CPI foi arquivada e jogada no esquecimento, uma prova de que em nosso
Estado a corrupção sempre esteve alicerçada num corporativismo sujo e podre, e
o que vemos nas ultimas semanas é um
chute na moralidade. A cassação de Valter Araujo nos deixa com uma sensação de
“trouxas” a sociedade esperava mais, queríamos todos cassados e afastados de
seus cargos por desrespeito aos bons costumes.
No entanto, parece que
nada mudou nos últimos 20 anos em nossa política, desde que denunciei o
prefeito daquela gestão até hoje, o dinheiro público que deveria ser investido
na melhoria de vida da população rondoniense, mais saúde, mais educação, mais
segurança e mais infra-estrutura é dividido por “quadrilhas” que de quatro em
quatro anos enganam o povo com promessas e promessas e nada acontece de mudança
estrutural em nossa cidade.
* Ex-vereadora em Porto
Velho, é ativista em movimentos no combate à corrupção.